CENA PARALELA: Estrada para Rochedo Casterly - Tarde de Acampamento
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CENA PARALELA: Estrada para Rochedo Casterly - Tarde de Acampamento
Já faz quanto tempo desde a ultima vez em que peguei a estrada? Menos de um ano com certeza. Foi quando voltava de Essos, para o funeral.
Pensando melhor, eu não havia ficado tanto tempo no mesmo lugar... A mais de 7 anos.
Apesar de que, mesmo em casa, eu não estava exatamente sempre no mesmo lugar. Mas o que eu posso fazer? Muitas vezes as terras altas são bem mais interessantes que os muros do castelo.
Acho que uma vez que o céu estrelado, o calor da fogueira em contraste com o vento gelado, as emoções de ver algo novo.. uma vez que essa sensação de experimentar um mundo vivo e pulsante faz raízes no coração de um homem, não dá mais para simplesmente arrancar...
Entretanto, confesso que achei que desta vez ficaria por mais tempo. Pra ser sincero, talvez eu quisesse ficar mais tempo...
É engraçado, desde que tinha alguma idade, Coroa Dourada era mais como outro desses lugares incríveis, dos quais eu ouvia historias e esperava um dia conhecer, se alguma curva na estrada me levasse para lá. Esse é uma sabor diferente, o de querer... de esperar voltar para casa.
Cyan estava sentado sobre uma pedra achatada. Seus olhos cor do céu olhavam para o norte, para a montanha rainha, enquanto ele próprio se divertia com sua descoberta, abrindo um sorriso. Ironicamente, hoje e nos dias atrás, o mesmo céu era cinza, e não azul. A chuva insistia desde que começaram a viagem, e a única compaixão que o tempo demonstrava para com os viajantes era em momentos como esse, de uma suave garoa, em um dia triste e descolorido de um mundo que estava de luto.
O acampamento já estava de pé. Miller voltava com lenha para a fogueira, e Sor Albert conversava com os três soldados que nos acompanhavam, designando os turnos de vigia.
Grimm não estava a vista, e eu esperava realmente que ele aparecesse com alguns coelhos ou mesmo uma ave ou duas para o jantar. O Jovem Dorian saiu timidamente da carruagem, sem seus livros, e aquele pareceu o momento perfeito. Levantei-me, e fui até meu cavalo, aonde tinha separado duas espadas de madeira.
"Lorde Dorian, é bom ve-lo animado nesse belo fim de tarde. Está pronto para começarmos?"
O garoto demorou um breve instante para lembrar do que o tio falava, mas logo entendeu ao ver as espadas em sua mão. Ele timidamente assentiu com a cabeça, controlando sua excitação e ansiedade juvenil. Hoje seria o dia! O dia em que ele aprenderia a ser um cavaleiro.
Mas Cyan, por si só, não era um cavaleiro. Diferente da maioria dos nobres, isso não lhe interessava. Ele tinha suas próprias armas. Tinha encontrado seu jeito próprio. A vida havia lhe dado um jeito próprio.
Mas a espada, a arma do cavaleiro, era o ponto de partida, e com a espada ele ensinaria o seu sobrinho, como um dia seu pai lhe ensinou. Mas agora, é claro, seria do seu próprio jeito.
Ele levou Dorian até alguns passos longe da carruagem, longe das coisas no chão, em um ponto aonde a terra era regular, e havia espaço para movimentos mais amplos. Era próximo a pedra aonde estava a pouco.
Já um jovem adulto, ele era muito mais alto que o menino. Parou a sua frente e olhou de cima para baixo, com uma expressão seria a qual não lhe era muito típica. Ele entregou a espada ao sobrinho, que retribuía a postura séria, que fazia o objeto de madeira quase sem valor parecer algo muito importante.
Cyan sentou-se novamente na pedra, o que fazia os dois manterem os olhos quase da mesma altura.
"Agora, diga-me, o que você pode me dizer sobre essa espada?"
O garoto, sem entender ao certo a pergunta, demonstrava estar um pouco confuso.
"Olhe-a bem. Isso, agora, o que pode dizer dela? Que é de madeira? O que mais?"
Ele relutava em responder alguma bobagem, pois as observações eram tão óbvias que ali só podia haver algum truque.
"Veja bem, o mais básico sobre uma espada longa, é que ela tem uma parte pontuda, e uma parte chata. A parte chata é o cabo aonde você a segura, a parte pontuda, bem, essa vai no morto"
Dorian achou graça, pois parecia uma pequena piada, e seu tio falava com um sorriso. Os homens no acampamento também riram, pois era mesmo engraçado considerar a guerra algo tão simples como apenas isso.
Mas Cyan ficou sério novamente: "Pode parecer brincadeira, mas não é. Veja bem Dorian, uma espada é uma espada, e nada mais. Um dia ela já foi ferro e nós, os MacLeod, tiramos o ferro da montanha. Nós podemos fazer ferramentas, ferraduras, pregos, o que for, mas nesse dia, o ferreiro decidiu fazer uma espada. Essa mesma espada que você segura, já foi uma arvore, e o homem que a derrubou, podia ter feito uma cerca, mas ele também fez uma arma, mesmo que só de treino. Entre os 7 deuses há um ferreiro, e o ferreiro é quem decide o que vai forjar. Ele irá golpeá-lo com seu martelo muitas vezes em sua vida, mas isso é para molda-lo.
Assim como a vontade dele irá lhe dar forma, a vontade de alguém deu forma a uma espada, e a sua própria vontade, enquanto segura-la, também irá dar forma a algo.
Essa, então é a primeira lição sobre uma espada. Você deve empulha-la aonde lhe é seguro, e a parte que machuca, você aponta para onde quiser. Mas uma espada é uma espada, e ela é feita para matar. Tenha cuidado para aonde você a guiar, e lembre-se sempre, que é a sua própria mão que a leva. O que ela fizer, terá sido feito por sua mão e é sua responsabilidade."
Dorian pareceu pensativo, fitando o objeto de madeira, com os dedos apertados em volta do cabo, e olhando firmemente para a ponta, a sua frente.
"Devem haver homens que entendam realmente a vontade dos sete. Acho que algum septão. Provavelmente o alto septão. Mas eu nunca os conheci. O que sei é que não posso afirmar o que o ferreiro quer e o porque ele molda o mundo da maneira que molda. Talvez pela vontade do pai, ou do guerreiro. Talvez até pelas suplicas da mãe. Talvez não caiba aos homens saber.
Mas quando um homem bate seu martelo no ferro, quando ele o torna em aço, ele o faz por um motivo. Talvez o lorde o tenha mandado, ou pode ser que ele o faça por si mesmo. O mesmo para o soldado. Ele pode matar um homem que veio lhe roubar a casa, ou ele próprio pode matar um velho para rouba-lo. Ele está defendendo suas terras, ou estaria saqueando um reino distante?
Pode ser que os sete tenham um plano para nós, mas até que algum de nós descubra, bem, até lá é você que deve saber porque está levantando sua arma. Lembre-se que, você deve segura-la pelo cabo, e por a parte pontuda no outro homem. Então é melhor ver bem o lado em que você está, e quem está do outro lado."
Os que haviam escutando antes, paravam um instante para pensar nisso. Era verdade que eram poucos os homens que realmente pensavam em algo do tipo. Os soldados provavelmente nunca tiveram a perspectiva de escolha. Mas Dorian não era um soldado, ele era um nobre, e como tal, suas escolhas um dia afetariam a vida de muitos. Como o próprio Sor Albert, mestre de armas, dizia sempre: "você deve ser fiel ao que acredita para ter certeza que sua espada defenderá o que é certo". O cavaleiro de meia idade tomou aqueles segundos para lembrar de seu lema pessoal, pesando novamente seus velhos pecados para enfim afirmar a si mesmo que ainda tinha um porque.
É claro que Dorian ainda era muito novo para pensar em algo do tipo, por mais precoce que fosse. Cyan sabia disso, mas o que ele queria era semear o principio de que a guerra não é tão simples como ela parece nos livros. A guerra é o inferno. É caos e dor. Aonde só os fortes não são rasgados por inteiro. E para ele, ser forte exige ser firme. E nesse mundo descontrolado, para um homem ser firme ele deve antes de tudo estar certo de suas escolhas.
Antes de dar uma espada ao sobrinho, ele quer ter certeza de que ele terá cuidado ao usa-la.
Dito isso, o terreno estava preparado para a próxima lição.
"Agora, essa é uma espada de madeira, então não vamos leva-la tão a sério. Ela é só um treino. Mas nós sabemos porque as estamos usando, não sabemos? Para aprender. Agora, essa é a segunda coisa que eu lhe digo: É o meu segredo para vencer qualquer batalha. Qualquer guerra. Qualquer avença. O homem que a dominar, será invencível.
Tenha certeza que, em todas as lutas em que eu sai vivo, foi apenas por isso.
Talvez você já a saiba... Então, vamos ver, me diga, como um homem pode vencer qualquer batalha, mesmo que em desvantagem?"
Novamente, o garoto ficou pensativo. Cyan se levantou e andou alguns passos, ficando a distancia de uma luta.
"Você, agora mesmo, se tivesse de lutar comigo. Se fosse uma luta de verdade, se eu fosse um homem de ferro pronto a te matar, disposto a matar todos e qualquer um de Coroa Dourada, até mesmo o seu cão, como é que você iria me parar?"
O menino imaginou a cena e isso lhe assustou. "Eu não poderia", disse com voz tremula enquanto abaixava a espada.
"Porque não?"
Dorian pensou, logo montando uma frase ao passo de que ia fazendo observações "O senhor é mais forte, mais rápido, sabe lutar... eu não poderia..."
Cyan ergueu a espada do menino com a ponta da sua própria "Sim, talvez você não possa. Pelo menos não em um combate direto. Você é capaz de ver o que eu posso fazer, e o que você não pode. Sabe que eu sou maior e mais forte, também sou mais rápido, e mais experiente. Mas esse é o segredo Dorian.
Uma luta nunca é só uma luta, não são dois homens um de frente para o outro trocando golpes. Nem mesmo em uma justa.
Pois bem, talvez nós estejamos em uma escada, então jogue a espada em meus pés para me derrubar. Se eu sou maior, isso também quer dizer que você é menor. Você poderia fugir por uma janela e chamar ajuda. Se eu estiver de armadura, e você não, então pode correr mais rápido. Pode correr até um arco e me flechar. E se eu tiver uma arma e você apenas um escudo, bem, defenda-se até que reforços cheguem."
Ele pareceu curioso, erguendo os olhos, que se acendiam, como sempre faziam quando ele aprende algo novo, percebendo que o mundo era muito maior do que ele achava a alguns instantes.
"O que faz alguém ganhar uma batalha é antes de tudo, a mente. O espírito também é importante, pois é o que incendeia qualquer coisa que você se dispuser a fazer.
Mas a força, a velocidade, a habilidade, são só ferramentas, e é claro que tê-las é uma vantagem, mas saiba que eu já vi homens grandes e fortes serem mortos por homens pequenos e fracos, pois estes eram mais rápidos.
Saiba que muitos soldados experientes já foram mortos pela primeira flecha de um recruta, e que homens honrados foram mortos por adagas de criminosos.
Homens invencíveis em armaduras espessas já caíram por uma gota de veneno, ou morreram dormindo, sufocados por uma mulher. Eu já vi um cavaleiro ser derrubado por seu próprio cavalo de confiança, e um escravo vencer na arena usando as próprias correntes que o prendiam.
Você deve saber as armas que tem, e as de seu inimigo. Se eu enfrentar um homem forte, vou desviar de seus golpes até que ele me de uma oportunidade de mata-lo. Mas se eu enfrentar um homem mais rápido do que eu, então eu irei tentar derruba-lo no chão para que ele não desvie de minha lamina, como o próprio homem forte provavelmente tentaria fazer comigo.
O mesmo acontece na guerra. Você pode ter mais soldados e ser emboscado em um desfiladeiro, ou ter a mais mortal cavalaria, e se ver diante de um castelo em um terreno montanhoso.
É como a uma dança aonde os passos não estão ensaiados. Saiba que você será surpreendido, e esteja pronto para improvisar. Prepare-se sempre, mas quando o plano falhar, pense mais rápido que seu inimigo. E nunca se de por vencido. Não espere que você não possa vencer. Até quando estiver no chão, ferido e quase morto, não se contenha em morder por sua vida se lhe derem o calcanhar.
Os mortos em combate sempre são aqueles que sabiam que iam morrer, e os que sabiam que não iam. Vivem os que duvidam. Que sabem que não há como ter total controle sobre isso, e que vão fazer de tudo para sobreviver. A confiança pode embriagar como o vinho, e se você beber dela por muito tempo, quando puxar a espada estará tão morto como um bêbado que desafia um cavaleiro.
Mantenha o foco, entendeu?"
Dorian ouvia tudo com atenção, e acenou positivamente com a cabeça. "Sim, tio".
"Você é muito inteligente, mais do que eu, ou qualquer um que eu conheci, na sua idade. Você com certeza será um mestre no que fizer, se manter sua mente afiada, e praticar sua habilidade"
Os olhos do menino, havidos por um elogio, brilharam, levemente úmidos de lágrimas.
Dando-lhe alguma confiança, Cyan esperava afastar-lhe a duvida e o receio. Serie necessário para as lições mais duras.
"Agora que já tratamos disso, vamos praticar para que você tenha opções. É sempre bom ter opções. Alguns truques na manga também não atrapalham. Primeiro a espada, que é o principio. Segure-a dessa maneira, com firmeza, mas deixando o punho fluir" Dizia mostrando como se faz
"Assim?" disse Dorian
"Sim, assim mesmo" respondeu Cyan, antes de dar um golpe rápido com a parte chata da espada de madeira na pequena mão do sobrinho, que deixou a arma cair para poder segurar a dor e a surpresa.
"E nunca solte sua arma" A dor fará com que ele se lembre da lição.
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Referencias (vagamente como eu me lembro delas):
Os 5 aneis de Musashi (de forma super resumida): 1º Terra, descubra o seu caminho, 2º agua, aprenda tudo sobre ele e torne-se o melhor possível no caminho que escolheu, 3º Ar, aprenda sobre os seus adversários, 4º Fogo, enfrente seus adversários. Se você conhecer a si mesmo, e aos seus inimigos, será invencível. 5º Vazio, abandone tudo para encontrar a iluminação.
Bruce Lee sobre o Jet Kune Do: Em uma cena de um de seus filmes, aonde ele ensina um rapaz. Ele o prende em um mata leão, e pergunta "como você escaparia desse golpe?" O rapaz responde que não sabe, então ele diz "morda o meu braço". "Morder?" pergunta, "Sim, porque não? Se não puder alcança-lo com seus chutes ou socos, porque não?"
Samuel O´Jackson como o Sargento West no filme violação de conduta (resumido): "Está cansado? Cansado demais para pensar? Bem, diga-me isso...qual é a sua arma? Sua arma, cara. O que mantém você vivo e faz os outros caras morrerem? Qual é sua arma? É seu cérebro.
Sua cabeça, seu conhecimento, sua esperteza, sua massa cinzenta. Seu equilíbrio sob fogo. Seu talento, quando tudo em você está perdendo o controle.
Bem... Acho que você veio para a festa desarmado"
Robert Deniro como Sam em Ronin: "Se estiver tudo bem, então provavelmente há um problema. Sempre que houver alguma duvida, não há duvida. É a primeira coisa que te ensinam"
Lian Nielsen em Cruzada: (Bate no rosto do filho com as costas da mão) "E isso é para que lembre-se de seu juramento".
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Nota: Não tenho costume de escrever em primeira pessoa, então ainda estou experimentando. As descrições ficam dificeis, pois sinto falta da narrativa externa. Me pareceu que foi misturando até no fim ficar como sempre faço.
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Narradora:
XP = +1 participação; + 1 qualidade da resposta; + 1 Apresentação/Iniciativa = +3.
Pensando melhor, eu não havia ficado tanto tempo no mesmo lugar... A mais de 7 anos.
Apesar de que, mesmo em casa, eu não estava exatamente sempre no mesmo lugar. Mas o que eu posso fazer? Muitas vezes as terras altas são bem mais interessantes que os muros do castelo.
Acho que uma vez que o céu estrelado, o calor da fogueira em contraste com o vento gelado, as emoções de ver algo novo.. uma vez que essa sensação de experimentar um mundo vivo e pulsante faz raízes no coração de um homem, não dá mais para simplesmente arrancar...
Entretanto, confesso que achei que desta vez ficaria por mais tempo. Pra ser sincero, talvez eu quisesse ficar mais tempo...
É engraçado, desde que tinha alguma idade, Coroa Dourada era mais como outro desses lugares incríveis, dos quais eu ouvia historias e esperava um dia conhecer, se alguma curva na estrada me levasse para lá. Esse é uma sabor diferente, o de querer... de esperar voltar para casa.
Cyan estava sentado sobre uma pedra achatada. Seus olhos cor do céu olhavam para o norte, para a montanha rainha, enquanto ele próprio se divertia com sua descoberta, abrindo um sorriso. Ironicamente, hoje e nos dias atrás, o mesmo céu era cinza, e não azul. A chuva insistia desde que começaram a viagem, e a única compaixão que o tempo demonstrava para com os viajantes era em momentos como esse, de uma suave garoa, em um dia triste e descolorido de um mundo que estava de luto.
O acampamento já estava de pé. Miller voltava com lenha para a fogueira, e Sor Albert conversava com os três soldados que nos acompanhavam, designando os turnos de vigia.
Grimm não estava a vista, e eu esperava realmente que ele aparecesse com alguns coelhos ou mesmo uma ave ou duas para o jantar. O Jovem Dorian saiu timidamente da carruagem, sem seus livros, e aquele pareceu o momento perfeito. Levantei-me, e fui até meu cavalo, aonde tinha separado duas espadas de madeira.
"Lorde Dorian, é bom ve-lo animado nesse belo fim de tarde. Está pronto para começarmos?"
O garoto demorou um breve instante para lembrar do que o tio falava, mas logo entendeu ao ver as espadas em sua mão. Ele timidamente assentiu com a cabeça, controlando sua excitação e ansiedade juvenil. Hoje seria o dia! O dia em que ele aprenderia a ser um cavaleiro.
Mas Cyan, por si só, não era um cavaleiro. Diferente da maioria dos nobres, isso não lhe interessava. Ele tinha suas próprias armas. Tinha encontrado seu jeito próprio. A vida havia lhe dado um jeito próprio.
Mas a espada, a arma do cavaleiro, era o ponto de partida, e com a espada ele ensinaria o seu sobrinho, como um dia seu pai lhe ensinou. Mas agora, é claro, seria do seu próprio jeito.
Ele levou Dorian até alguns passos longe da carruagem, longe das coisas no chão, em um ponto aonde a terra era regular, e havia espaço para movimentos mais amplos. Era próximo a pedra aonde estava a pouco.
Já um jovem adulto, ele era muito mais alto que o menino. Parou a sua frente e olhou de cima para baixo, com uma expressão seria a qual não lhe era muito típica. Ele entregou a espada ao sobrinho, que retribuía a postura séria, que fazia o objeto de madeira quase sem valor parecer algo muito importante.
Cyan sentou-se novamente na pedra, o que fazia os dois manterem os olhos quase da mesma altura.
"Agora, diga-me, o que você pode me dizer sobre essa espada?"
O garoto, sem entender ao certo a pergunta, demonstrava estar um pouco confuso.
"Olhe-a bem. Isso, agora, o que pode dizer dela? Que é de madeira? O que mais?"
Ele relutava em responder alguma bobagem, pois as observações eram tão óbvias que ali só podia haver algum truque.
"Veja bem, o mais básico sobre uma espada longa, é que ela tem uma parte pontuda, e uma parte chata. A parte chata é o cabo aonde você a segura, a parte pontuda, bem, essa vai no morto"
Dorian achou graça, pois parecia uma pequena piada, e seu tio falava com um sorriso. Os homens no acampamento também riram, pois era mesmo engraçado considerar a guerra algo tão simples como apenas isso.
Mas Cyan ficou sério novamente: "Pode parecer brincadeira, mas não é. Veja bem Dorian, uma espada é uma espada, e nada mais. Um dia ela já foi ferro e nós, os MacLeod, tiramos o ferro da montanha. Nós podemos fazer ferramentas, ferraduras, pregos, o que for, mas nesse dia, o ferreiro decidiu fazer uma espada. Essa mesma espada que você segura, já foi uma arvore, e o homem que a derrubou, podia ter feito uma cerca, mas ele também fez uma arma, mesmo que só de treino. Entre os 7 deuses há um ferreiro, e o ferreiro é quem decide o que vai forjar. Ele irá golpeá-lo com seu martelo muitas vezes em sua vida, mas isso é para molda-lo.
Assim como a vontade dele irá lhe dar forma, a vontade de alguém deu forma a uma espada, e a sua própria vontade, enquanto segura-la, também irá dar forma a algo.
Essa, então é a primeira lição sobre uma espada. Você deve empulha-la aonde lhe é seguro, e a parte que machuca, você aponta para onde quiser. Mas uma espada é uma espada, e ela é feita para matar. Tenha cuidado para aonde você a guiar, e lembre-se sempre, que é a sua própria mão que a leva. O que ela fizer, terá sido feito por sua mão e é sua responsabilidade."
Dorian pareceu pensativo, fitando o objeto de madeira, com os dedos apertados em volta do cabo, e olhando firmemente para a ponta, a sua frente.
"Devem haver homens que entendam realmente a vontade dos sete. Acho que algum septão. Provavelmente o alto septão. Mas eu nunca os conheci. O que sei é que não posso afirmar o que o ferreiro quer e o porque ele molda o mundo da maneira que molda. Talvez pela vontade do pai, ou do guerreiro. Talvez até pelas suplicas da mãe. Talvez não caiba aos homens saber.
Mas quando um homem bate seu martelo no ferro, quando ele o torna em aço, ele o faz por um motivo. Talvez o lorde o tenha mandado, ou pode ser que ele o faça por si mesmo. O mesmo para o soldado. Ele pode matar um homem que veio lhe roubar a casa, ou ele próprio pode matar um velho para rouba-lo. Ele está defendendo suas terras, ou estaria saqueando um reino distante?
Pode ser que os sete tenham um plano para nós, mas até que algum de nós descubra, bem, até lá é você que deve saber porque está levantando sua arma. Lembre-se que, você deve segura-la pelo cabo, e por a parte pontuda no outro homem. Então é melhor ver bem o lado em que você está, e quem está do outro lado."
Os que haviam escutando antes, paravam um instante para pensar nisso. Era verdade que eram poucos os homens que realmente pensavam em algo do tipo. Os soldados provavelmente nunca tiveram a perspectiva de escolha. Mas Dorian não era um soldado, ele era um nobre, e como tal, suas escolhas um dia afetariam a vida de muitos. Como o próprio Sor Albert, mestre de armas, dizia sempre: "você deve ser fiel ao que acredita para ter certeza que sua espada defenderá o que é certo". O cavaleiro de meia idade tomou aqueles segundos para lembrar de seu lema pessoal, pesando novamente seus velhos pecados para enfim afirmar a si mesmo que ainda tinha um porque.
É claro que Dorian ainda era muito novo para pensar em algo do tipo, por mais precoce que fosse. Cyan sabia disso, mas o que ele queria era semear o principio de que a guerra não é tão simples como ela parece nos livros. A guerra é o inferno. É caos e dor. Aonde só os fortes não são rasgados por inteiro. E para ele, ser forte exige ser firme. E nesse mundo descontrolado, para um homem ser firme ele deve antes de tudo estar certo de suas escolhas.
Antes de dar uma espada ao sobrinho, ele quer ter certeza de que ele terá cuidado ao usa-la.
Dito isso, o terreno estava preparado para a próxima lição.
"Agora, essa é uma espada de madeira, então não vamos leva-la tão a sério. Ela é só um treino. Mas nós sabemos porque as estamos usando, não sabemos? Para aprender. Agora, essa é a segunda coisa que eu lhe digo: É o meu segredo para vencer qualquer batalha. Qualquer guerra. Qualquer avença. O homem que a dominar, será invencível.
Tenha certeza que, em todas as lutas em que eu sai vivo, foi apenas por isso.
Talvez você já a saiba... Então, vamos ver, me diga, como um homem pode vencer qualquer batalha, mesmo que em desvantagem?"
Novamente, o garoto ficou pensativo. Cyan se levantou e andou alguns passos, ficando a distancia de uma luta.
"Você, agora mesmo, se tivesse de lutar comigo. Se fosse uma luta de verdade, se eu fosse um homem de ferro pronto a te matar, disposto a matar todos e qualquer um de Coroa Dourada, até mesmo o seu cão, como é que você iria me parar?"
O menino imaginou a cena e isso lhe assustou. "Eu não poderia", disse com voz tremula enquanto abaixava a espada.
"Porque não?"
Dorian pensou, logo montando uma frase ao passo de que ia fazendo observações "O senhor é mais forte, mais rápido, sabe lutar... eu não poderia..."
Cyan ergueu a espada do menino com a ponta da sua própria "Sim, talvez você não possa. Pelo menos não em um combate direto. Você é capaz de ver o que eu posso fazer, e o que você não pode. Sabe que eu sou maior e mais forte, também sou mais rápido, e mais experiente. Mas esse é o segredo Dorian.
Uma luta nunca é só uma luta, não são dois homens um de frente para o outro trocando golpes. Nem mesmo em uma justa.
Pois bem, talvez nós estejamos em uma escada, então jogue a espada em meus pés para me derrubar. Se eu sou maior, isso também quer dizer que você é menor. Você poderia fugir por uma janela e chamar ajuda. Se eu estiver de armadura, e você não, então pode correr mais rápido. Pode correr até um arco e me flechar. E se eu tiver uma arma e você apenas um escudo, bem, defenda-se até que reforços cheguem."
Ele pareceu curioso, erguendo os olhos, que se acendiam, como sempre faziam quando ele aprende algo novo, percebendo que o mundo era muito maior do que ele achava a alguns instantes.
"O que faz alguém ganhar uma batalha é antes de tudo, a mente. O espírito também é importante, pois é o que incendeia qualquer coisa que você se dispuser a fazer.
Mas a força, a velocidade, a habilidade, são só ferramentas, e é claro que tê-las é uma vantagem, mas saiba que eu já vi homens grandes e fortes serem mortos por homens pequenos e fracos, pois estes eram mais rápidos.
Saiba que muitos soldados experientes já foram mortos pela primeira flecha de um recruta, e que homens honrados foram mortos por adagas de criminosos.
Homens invencíveis em armaduras espessas já caíram por uma gota de veneno, ou morreram dormindo, sufocados por uma mulher. Eu já vi um cavaleiro ser derrubado por seu próprio cavalo de confiança, e um escravo vencer na arena usando as próprias correntes que o prendiam.
Você deve saber as armas que tem, e as de seu inimigo. Se eu enfrentar um homem forte, vou desviar de seus golpes até que ele me de uma oportunidade de mata-lo. Mas se eu enfrentar um homem mais rápido do que eu, então eu irei tentar derruba-lo no chão para que ele não desvie de minha lamina, como o próprio homem forte provavelmente tentaria fazer comigo.
O mesmo acontece na guerra. Você pode ter mais soldados e ser emboscado em um desfiladeiro, ou ter a mais mortal cavalaria, e se ver diante de um castelo em um terreno montanhoso.
É como a uma dança aonde os passos não estão ensaiados. Saiba que você será surpreendido, e esteja pronto para improvisar. Prepare-se sempre, mas quando o plano falhar, pense mais rápido que seu inimigo. E nunca se de por vencido. Não espere que você não possa vencer. Até quando estiver no chão, ferido e quase morto, não se contenha em morder por sua vida se lhe derem o calcanhar.
Os mortos em combate sempre são aqueles que sabiam que iam morrer, e os que sabiam que não iam. Vivem os que duvidam. Que sabem que não há como ter total controle sobre isso, e que vão fazer de tudo para sobreviver. A confiança pode embriagar como o vinho, e se você beber dela por muito tempo, quando puxar a espada estará tão morto como um bêbado que desafia um cavaleiro.
Mantenha o foco, entendeu?"
Dorian ouvia tudo com atenção, e acenou positivamente com a cabeça. "Sim, tio".
"Você é muito inteligente, mais do que eu, ou qualquer um que eu conheci, na sua idade. Você com certeza será um mestre no que fizer, se manter sua mente afiada, e praticar sua habilidade"
Os olhos do menino, havidos por um elogio, brilharam, levemente úmidos de lágrimas.
Dando-lhe alguma confiança, Cyan esperava afastar-lhe a duvida e o receio. Serie necessário para as lições mais duras.
"Agora que já tratamos disso, vamos praticar para que você tenha opções. É sempre bom ter opções. Alguns truques na manga também não atrapalham. Primeiro a espada, que é o principio. Segure-a dessa maneira, com firmeza, mas deixando o punho fluir" Dizia mostrando como se faz
"Assim?" disse Dorian
"Sim, assim mesmo" respondeu Cyan, antes de dar um golpe rápido com a parte chata da espada de madeira na pequena mão do sobrinho, que deixou a arma cair para poder segurar a dor e a surpresa.
"E nunca solte sua arma" A dor fará com que ele se lembre da lição.
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Referencias (vagamente como eu me lembro delas):
Os 5 aneis de Musashi (de forma super resumida): 1º Terra, descubra o seu caminho, 2º agua, aprenda tudo sobre ele e torne-se o melhor possível no caminho que escolheu, 3º Ar, aprenda sobre os seus adversários, 4º Fogo, enfrente seus adversários. Se você conhecer a si mesmo, e aos seus inimigos, será invencível. 5º Vazio, abandone tudo para encontrar a iluminação.
Bruce Lee sobre o Jet Kune Do: Em uma cena de um de seus filmes, aonde ele ensina um rapaz. Ele o prende em um mata leão, e pergunta "como você escaparia desse golpe?" O rapaz responde que não sabe, então ele diz "morda o meu braço". "Morder?" pergunta, "Sim, porque não? Se não puder alcança-lo com seus chutes ou socos, porque não?"
Samuel O´Jackson como o Sargento West no filme violação de conduta (resumido): "Está cansado? Cansado demais para pensar? Bem, diga-me isso...qual é a sua arma? Sua arma, cara. O que mantém você vivo e faz os outros caras morrerem? Qual é sua arma? É seu cérebro.
Sua cabeça, seu conhecimento, sua esperteza, sua massa cinzenta. Seu equilíbrio sob fogo. Seu talento, quando tudo em você está perdendo o controle.
Bem... Acho que você veio para a festa desarmado"
Robert Deniro como Sam em Ronin: "Se estiver tudo bem, então provavelmente há um problema. Sempre que houver alguma duvida, não há duvida. É a primeira coisa que te ensinam"
Lian Nielsen em Cruzada: (Bate no rosto do filho com as costas da mão) "E isso é para que lembre-se de seu juramento".
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Nota: Não tenho costume de escrever em primeira pessoa, então ainda estou experimentando. As descrições ficam dificeis, pois sinto falta da narrativa externa. Me pareceu que foi misturando até no fim ficar como sempre faço.
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Narradora:
XP = +1 participação; + 1 qualidade da resposta; + 1 Apresentação/Iniciativa = +3.
Cyan MacLeod- Mensagens : 10
Data de inscrição : 14/04/2015
Re: CENA PARALELA: Estrada para Rochedo Casterly - Tarde de Acampamento
DORIAN
O terceiro dia da donzela havia amanhecido diferente dos últimos dias da viagem. A chuva havia cessado, e no meio da manhã, até mesmo a garoa insistente que os acompanhava desde que deixaram Coroa Dourada, também cessou. O sacolejar da carruagem se tornou intenso naquela manhã e manter os pequenos cochilos ao qual havia se habituado, tornara-se impossível, concluiu Dorian.
O pai deve estar aproveitando o bom tempo da donzela. Pensou o jovem herdeiro enquanto se aprumava no banco de madeira coberto por veludo carmesim acolchoado. Era a primeira vez que os cavalos corriam tão rápido e Dorian pensou nos homens lá fora, cavalgando sob pesados mantos de lã molhada. Não fazia a menor questão de cavalgar, mas seu corpo todo doía de ficar ali dentro, sacolejando, dia após dia de viagem e talvez devesse ter um cavalo para cavalgar com os homens. O corpo estático e sem vida do cavalo de seu pai, tomou conta de sua mente, mas não foi à lembrança do sangue misturado com lama que o fez enjoar, foi à lembrança dos olhos opacos e vazios do animal. Dorian considerava o animal altivo e nobre quase como uma extensão do próprio pai e a morte do animal, era quase como a morte de uma parte do próprio pai. E de toda morte que havia rondado o garoto nos últimos tempos, era a morte do cavalo do pai que mais o perturbava e que lhe era mais real e significativa. Olhos opacos e vazios. Tentou ler alguma coisa, mas estava por demais agitado para conseguir se concentrar na leitura.
Era a primeira vez que viajava para Rochedo Casterly e se nos primeiros dias de viagem mal conseguia se conter de excitação, agora, após ver as ruínas de Castamere e ouvir o peso da responsabilidade nas palavras do pai, ficar horas entediantes dentro da carruagem fria e úmida, dormir mal, comer uma comida que nem de longe lembrava as tortas que Angus preparava, ver os mortos na estrada, ter de ficar vendo o pai e o tio lutar com bandidos pelas frestas da janela da carruagem como uma dama indefesa e por fim....Olhos opacos e vazios.......a morte do cavalo de seu pai a lhe invadir a mente a cada instante com pensamentos sombrios, tudo que queria era o conforto da biblioteca que conhecera a vida toda e a voz calma e rouca do Meistre Otelo lhe ensinando Valiriano.
Dorian ergueu o olhar para sua a irmã, ela parecia estar adormecida a sua frente, com os olhos fechados e a postura impecável. Ela era um mistério para ele. Eram irmãos apenas por parte de pai e Gena dizia que ela tinha mais sangue do dragão que sangue MacLeod, seja lá o que isso queria dizer, Dorian sempre ficava intrigado com isso, imaginando se a irmã tinha mesmo Sangue do Dragão. Gostava especialmente dos cabelos dela, eram loiros, mas eram diferentes dos cabelos da mãe, eram loiros prateados e o faziam se lembrar da dama de companhia da irmã. Olhou para o chão da carruagem sentindo as bochechas arderem, sentindo um misto de raiva e excitação ao se lembrar do último encontro com ela no quarto da irmã. Não havia entendido muito bem os segredos entre as duas, mas havia compreendido que haviam saído do castelo e que alguém havia machucado a dama!
Dana...para mim ela não é uma bastarda...Dana MacLeod ela será um dia! E ninguém mais irá machuca-la! Pensou com sua determinação romântica, cavalheiresca e infantil. Não havia contado para ninguém, mas já sabia há mais de três luas que estava apaixonado pela dama de companhia da irmã. Quando o ardor da face diminuiu ergueu seu olhar novamente para a irmã e por um instante ficou paralisado, assustado, com o sangue que fluía e escorria de uma das narinas da irmã. Dorian nunca tinha visto a irmã sangrar e isso o assustou. E tudo parou. Os cavalos pararam, a carruagem parou, os homens lá fora pararam. Dorian entendeu que começariam a montar o acampamento para o almoço e logo alguém viria até ali, até eles.
- Sara....
Aproximou-se da irmã, pegando um lenço bordado pela mãe do bolso de seu gibão e desajeitadamente tentou ajudá-la.
- Sara....você está sangrando....
Usou o lenço com o bordado de uma árvore em chamas para limpar o sangue que escorria do nariz da irmã, não era muito e ela parecia bem, mas mesmo assim perguntou preocupado:
- Você está bem?
Esperou a resposta e acabou entregando o lenço para a irmã, para que ela visse o sangue. Olhou pela janela, lá fora todos pareciam estar fazendo algo. Se eu for na frente, Sara terá mais tempo para se recompor...
- Sara, eu vou na frente ver o que está acontecendo...volto logo...
Olhou mais um pouco para a irmã antes de sair. O lenço com a árvore pegando fogo da casa Marbrand, que fora bordado por sua mãe e dado a ele de presente, agora estava salpicado de vermelho sangue. A Mãe não vai gostar...será que Liz consegue limpar? Pensou e com um suspiro abriu a portinhola da carruagem e saltou afundando suas botas de couro na lama.
Tão logo saiu da carruagem, ouviu a voz animada do tio, perguntando se estava animado. Dorian franziu o cenho empurrando a portinhola da carruagem para dar privacidade à irmã enquanto tentava entender do que o tio falava. Era a primeira vez que esticava o corpo em horas, mas não era exatamente animação que sentia. Viu o tio pegar espadas de madeira e finalmente entendeu. Assentiu e empertigou-se todo. Meu tio vai me ensinar a lutar!
Dorian procurou o pai com o olhar, procurava por sua aprovação. Era mais forte que ele, por mais que achasse as histórias do tio interessante sobre Dorne e Essos, por mais que ouvisse os homens falando com admiração das habilidades do tio, Dorian esperava secretamente que fosse seu pai a lhe ensinar. Seu pai era um Sor, um cavaleiro ungido pelos Sete. Seu tio não. Era a mesma sensação que sentia quando Gena vinha lhe trazer o lanche e não sua mãe. Não achou o pai e tratou de esconder a pontada de desapontamento que sentia.
Foi com o tio, e logo Dana tomou seus pensamentos. Se ele aprendesse a lutar logo, poderia defendê-la como os cavaleiros fazem com as damas nas histórias.
As dores no corpo do garoto pareciam haver desaparecido e ele realmente começava a sentir-se animado. Viu o tio parar, muito mais alto e forte diante dele, mas não se intimidou. Dorian já havia lido dezenas de livros que narravam duelos, justas e guerras. Conhecia vários tipos de armas e armaduras dos compêndios de Meistre Otelo e já conversara com Gerard por horas a fio sobre como forjar o aço da espada e a sua opinião sobre o aço Valiriano, duvidava que o tio pudesse lhe dizer algo novo sobre uma espada, ainda mais uma espada de madeira, por isso, não se intimidou, agarrou o cabo e a empunhou como achou que devia e foi então que o tio começou. Uma coisa era saber e outra coisa era sentir e o que o tio estava fazendo era fazê-lo sentir ter uma espada nas mãos.
A primeira lição é segurá-la onde é seguro e a parte que machuca aponta para onde quiser...
Apertou o cabo na sua mão com toda sua força.
- Meistre Otelo me disse que no Norte, entre aqueles que descendem dos Primeiros Homens, o homem que dita a sentença deve manejar a espada...um dia, tio, eu serei Lorde, vai ser minha responsabilidade manejar a espada e punir aqueles que fazem maldades com damas indefesas!
Dorian podia ser um garoto, mas era um garoto bem persuasivo quando queria e era quase como se estivesse fazendo uma promessa ali, em voz alta. Podia ser uma motivação infantil, o fato é que o garoto parecia realmente ter entendido o que o tio dizia e parecia muito motivado.
Em seguida a enxurrada de perguntas forçou Dorian a recuar alguns passos, sentiu sua perna formigar e puxar mais para um lado, pelo nervosismo em responder e pensar em tudo que o tio dizia, mas tão logo admitiu que seu tio era maior e mais forte, as respostas foram fazendo sentindo e a tensão foi diminuindo. Tentou ficar atento a tudo que o tio dizia, mas às vezes seu olhar escapava a procura do pai, às vezes pensava na irmã e às vezes pensava em Dana. Dorian queria começar logo, já havia visto Lionel e Albert lutarem até a exaustão sem um conseguir vencer o outro, vira Edhan vencer Bort, até Veivila já vira treinando com seu escudo esverdeado! Já pensava em cutucar o tio com a ponta da espada quando ele finalmente começou a mostrar-lhe como seu punho deve fluir com o movimento. Era mais difícil do que parecia. E então sem saber de onde veio o golpe que chicoteou sua mão. Soltou a arma e recolheu a mão chacoalhando ela para a dor passar e olhando para o tio confuso e surpreso.
Bufou e abaixou para pegar a espada de madeira. Sua perna estava formigando novamente e sabia que era por causa do seu nervosismo. Mas Dorian não ia desistir tão rápido. Era um garoto desajeitado, mas vigoroso e aguentava alguns bons golpes.
- A parte pontuda no outro homem né...tio...
E desajeitadamente estocou contra seu tio Cyan, sentindo todo seu corpo se aquecer pela adrenalina de lutar.
Nós próximos anos de sua vida e nas muitas vezes em que seria jogado na lona da derrota durante os treinamentos, teria as palavras do tio ecoando na sua mente e tentaria extrair delas as lições que seu tio tentou lhe ensinar naquela tarde estranha do terceiro dia da donzela.
O pai deve estar aproveitando o bom tempo da donzela. Pensou o jovem herdeiro enquanto se aprumava no banco de madeira coberto por veludo carmesim acolchoado. Era a primeira vez que os cavalos corriam tão rápido e Dorian pensou nos homens lá fora, cavalgando sob pesados mantos de lã molhada. Não fazia a menor questão de cavalgar, mas seu corpo todo doía de ficar ali dentro, sacolejando, dia após dia de viagem e talvez devesse ter um cavalo para cavalgar com os homens. O corpo estático e sem vida do cavalo de seu pai, tomou conta de sua mente, mas não foi à lembrança do sangue misturado com lama que o fez enjoar, foi à lembrança dos olhos opacos e vazios do animal. Dorian considerava o animal altivo e nobre quase como uma extensão do próprio pai e a morte do animal, era quase como a morte de uma parte do próprio pai. E de toda morte que havia rondado o garoto nos últimos tempos, era a morte do cavalo do pai que mais o perturbava e que lhe era mais real e significativa. Olhos opacos e vazios. Tentou ler alguma coisa, mas estava por demais agitado para conseguir se concentrar na leitura.
Era a primeira vez que viajava para Rochedo Casterly e se nos primeiros dias de viagem mal conseguia se conter de excitação, agora, após ver as ruínas de Castamere e ouvir o peso da responsabilidade nas palavras do pai, ficar horas entediantes dentro da carruagem fria e úmida, dormir mal, comer uma comida que nem de longe lembrava as tortas que Angus preparava, ver os mortos na estrada, ter de ficar vendo o pai e o tio lutar com bandidos pelas frestas da janela da carruagem como uma dama indefesa e por fim....Olhos opacos e vazios.......a morte do cavalo de seu pai a lhe invadir a mente a cada instante com pensamentos sombrios, tudo que queria era o conforto da biblioteca que conhecera a vida toda e a voz calma e rouca do Meistre Otelo lhe ensinando Valiriano.
Dorian ergueu o olhar para sua a irmã, ela parecia estar adormecida a sua frente, com os olhos fechados e a postura impecável. Ela era um mistério para ele. Eram irmãos apenas por parte de pai e Gena dizia que ela tinha mais sangue do dragão que sangue MacLeod, seja lá o que isso queria dizer, Dorian sempre ficava intrigado com isso, imaginando se a irmã tinha mesmo Sangue do Dragão. Gostava especialmente dos cabelos dela, eram loiros, mas eram diferentes dos cabelos da mãe, eram loiros prateados e o faziam se lembrar da dama de companhia da irmã. Olhou para o chão da carruagem sentindo as bochechas arderem, sentindo um misto de raiva e excitação ao se lembrar do último encontro com ela no quarto da irmã. Não havia entendido muito bem os segredos entre as duas, mas havia compreendido que haviam saído do castelo e que alguém havia machucado a dama!
Dana...para mim ela não é uma bastarda...Dana MacLeod ela será um dia! E ninguém mais irá machuca-la! Pensou com sua determinação romântica, cavalheiresca e infantil. Não havia contado para ninguém, mas já sabia há mais de três luas que estava apaixonado pela dama de companhia da irmã. Quando o ardor da face diminuiu ergueu seu olhar novamente para a irmã e por um instante ficou paralisado, assustado, com o sangue que fluía e escorria de uma das narinas da irmã. Dorian nunca tinha visto a irmã sangrar e isso o assustou. E tudo parou. Os cavalos pararam, a carruagem parou, os homens lá fora pararam. Dorian entendeu que começariam a montar o acampamento para o almoço e logo alguém viria até ali, até eles.
- Sara....
Aproximou-se da irmã, pegando um lenço bordado pela mãe do bolso de seu gibão e desajeitadamente tentou ajudá-la.
- Sara....você está sangrando....
Usou o lenço com o bordado de uma árvore em chamas para limpar o sangue que escorria do nariz da irmã, não era muito e ela parecia bem, mas mesmo assim perguntou preocupado:
- Você está bem?
Esperou a resposta e acabou entregando o lenço para a irmã, para que ela visse o sangue. Olhou pela janela, lá fora todos pareciam estar fazendo algo. Se eu for na frente, Sara terá mais tempo para se recompor...
- Sara, eu vou na frente ver o que está acontecendo...volto logo...
Olhou mais um pouco para a irmã antes de sair. O lenço com a árvore pegando fogo da casa Marbrand, que fora bordado por sua mãe e dado a ele de presente, agora estava salpicado de vermelho sangue. A Mãe não vai gostar...será que Liz consegue limpar? Pensou e com um suspiro abriu a portinhola da carruagem e saltou afundando suas botas de couro na lama.
Tão logo saiu da carruagem, ouviu a voz animada do tio, perguntando se estava animado. Dorian franziu o cenho empurrando a portinhola da carruagem para dar privacidade à irmã enquanto tentava entender do que o tio falava. Era a primeira vez que esticava o corpo em horas, mas não era exatamente animação que sentia. Viu o tio pegar espadas de madeira e finalmente entendeu. Assentiu e empertigou-se todo. Meu tio vai me ensinar a lutar!
Dorian procurou o pai com o olhar, procurava por sua aprovação. Era mais forte que ele, por mais que achasse as histórias do tio interessante sobre Dorne e Essos, por mais que ouvisse os homens falando com admiração das habilidades do tio, Dorian esperava secretamente que fosse seu pai a lhe ensinar. Seu pai era um Sor, um cavaleiro ungido pelos Sete. Seu tio não. Era a mesma sensação que sentia quando Gena vinha lhe trazer o lanche e não sua mãe. Não achou o pai e tratou de esconder a pontada de desapontamento que sentia.
Foi com o tio, e logo Dana tomou seus pensamentos. Se ele aprendesse a lutar logo, poderia defendê-la como os cavaleiros fazem com as damas nas histórias.
As dores no corpo do garoto pareciam haver desaparecido e ele realmente começava a sentir-se animado. Viu o tio parar, muito mais alto e forte diante dele, mas não se intimidou. Dorian já havia lido dezenas de livros que narravam duelos, justas e guerras. Conhecia vários tipos de armas e armaduras dos compêndios de Meistre Otelo e já conversara com Gerard por horas a fio sobre como forjar o aço da espada e a sua opinião sobre o aço Valiriano, duvidava que o tio pudesse lhe dizer algo novo sobre uma espada, ainda mais uma espada de madeira, por isso, não se intimidou, agarrou o cabo e a empunhou como achou que devia e foi então que o tio começou. Uma coisa era saber e outra coisa era sentir e o que o tio estava fazendo era fazê-lo sentir ter uma espada nas mãos.
A primeira lição é segurá-la onde é seguro e a parte que machuca aponta para onde quiser...
Apertou o cabo na sua mão com toda sua força.
- Meistre Otelo me disse que no Norte, entre aqueles que descendem dos Primeiros Homens, o homem que dita a sentença deve manejar a espada...um dia, tio, eu serei Lorde, vai ser minha responsabilidade manejar a espada e punir aqueles que fazem maldades com damas indefesas!
Dorian podia ser um garoto, mas era um garoto bem persuasivo quando queria e era quase como se estivesse fazendo uma promessa ali, em voz alta. Podia ser uma motivação infantil, o fato é que o garoto parecia realmente ter entendido o que o tio dizia e parecia muito motivado.
Em seguida a enxurrada de perguntas forçou Dorian a recuar alguns passos, sentiu sua perna formigar e puxar mais para um lado, pelo nervosismo em responder e pensar em tudo que o tio dizia, mas tão logo admitiu que seu tio era maior e mais forte, as respostas foram fazendo sentindo e a tensão foi diminuindo. Tentou ficar atento a tudo que o tio dizia, mas às vezes seu olhar escapava a procura do pai, às vezes pensava na irmã e às vezes pensava em Dana. Dorian queria começar logo, já havia visto Lionel e Albert lutarem até a exaustão sem um conseguir vencer o outro, vira Edhan vencer Bort, até Veivila já vira treinando com seu escudo esverdeado! Já pensava em cutucar o tio com a ponta da espada quando ele finalmente começou a mostrar-lhe como seu punho deve fluir com o movimento. Era mais difícil do que parecia. E então sem saber de onde veio o golpe que chicoteou sua mão. Soltou a arma e recolheu a mão chacoalhando ela para a dor passar e olhando para o tio confuso e surpreso.
Bufou e abaixou para pegar a espada de madeira. Sua perna estava formigando novamente e sabia que era por causa do seu nervosismo. Mas Dorian não ia desistir tão rápido. Era um garoto desajeitado, mas vigoroso e aguentava alguns bons golpes.
- A parte pontuda no outro homem né...tio...
E desajeitadamente estocou contra seu tio Cyan, sentindo todo seu corpo se aquecer pela adrenalina de lutar.
Nós próximos anos de sua vida e nas muitas vezes em que seria jogado na lona da derrota durante os treinamentos, teria as palavras do tio ecoando na sua mente e tentaria extrair delas as lições que seu tio tentou lhe ensinar naquela tarde estranha do terceiro dia da donzela.
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Notas de Interpretação:
Dorian tem: Persuasão 4 & Luta 1
Última edição por Mão do Rei em 28.12.15 16:36, editado 1 vez(es)
Re: CENA PARALELA: Estrada para Rochedo Casterly - Tarde de Acampamento
ALBERT
Sor Albert terminou de dar as últimas instruções para os três soldados que os acompanhavam. Já haviam descarregado os equipamentos dos lombos cansados e úmidos dos cavalos na pequena clareira que Grimm havia “localizado”... Vai servir...pensou, examinando a grama baixa e batendo o pé na terra, o chão ali não era lamacento como na estrada, mas ainda estava úmido e com eventuais poças aqui e ali. Viu os homens começarem a montar as tendas, se fossem apenas soldados descansariam nos mantos de lã, mas ao Lorde e aos seus herdeiros as tendas eram adequadas. Haviam avançado bem naquele dia com a estiagem do tempo, cruzado as terras da Casa Sarsfield de modo que, sabia, a próxima parada seria só em Rochedo Casterly. Sentiu uma fisgada no ombro e fez uma careta de dor enquanto desatava seu manto úmido e pendurava-o em um galho qualquer. Estava com o ombro dolorido desde o embate com os bandidos na estrada. Decapitar um homem nunca era uma tarefa fácil...devo proteger meu Lorde, não importa como...pensou por um instante sentindo todo o peso da morte nos seus ombros. Era um cavaleiro e havia feito um juramento e a morte havia chegado bem perto de seu Lorde, não podia permitir que algo assim acontecesse novamente.
Foi à voz do Irmão de Ferro que afastou os pensamentos sombrios da mente do velho cavaleiro. Albert balançou a cabeça desanuviando a mente e procurou o jovem cheio de ímpeto que era o irmão mais novo de Lorde Dunkan MacLeod. Mais ao leste, num descampado ele estava com o pequeno herdeiro de Coroa Dourada e com espadas de madeira. Albert aproximou-se enquanto massageava sutilmente o ombro, estava curioso para ver o que acontecia e logo localizou Grinn prostrado numa pedra observando o tio falando com o sobrinho.
Albert se aproximou do homem que tinha mais barba do que rosto visível e conforme se aproximava via que ele estava abrindo a barriga de um coelho e lhe tirando as entranhas. Jogava ali do lado e amarrava a caça sem a barrigada em uma madeira que deixara suspensa. Parou ali do lado do Patrulheiro das Terras Altas, mas não se dignou a oferecer qualquer auxilio na empreitada.
- Parece que a caça foi farta...
Grinn meneou a cabeça em cumprimento e arqueou as sobrancelhas grossas que mais pareciam duas taturanas coladas em sua testa. Albert ficou na dúvida se ele sorrira ou não por trás de toda aquela barba negra e densa. Deveria ter dito ao homem para tomar um banho quando pararam na estalagem. Não imaginava Grinn na corte de Rochedo Casterly, mas era melhor não se preocupar com isso agora.
- Hayyyy....- Foi o grunhido que Albert ouviu em resposta. Cruzou os braços, olhando para Lorde Cyan e Lorde Dorian. Albert era o Mestre de Armas de Coroa Dourada, ele que costumava instruir os jovens.
- Já deu água para os cavalos? Quanto de água e vinho ainda temos? – Perguntou enquanto observava o Irmão de Ferro falar com o pequeno herdeiro. Albert era mais ortodoxo, daria uma espada e mandaria o garoto atacar um alvo de madeira até acordar todos os nervos, músculos e tendões de seu corpo. Franziu o cenho. Tinha suas reservas pessoais ao irmão mais novo do Lorde, mas se esforçava ao máximo para não demonstrá-las. Ele era diferente demais do mundo preto e branco ao qual o cavaleiro gostava de viver e por vezes Albert não gostava de seus modos.
- Hayyyy...um barril de águal, dois barris de vinho....quer que eu olhe o seu ombro? – Outro grunhido, seguido das taturanas dançantes arqueadas no pouco de pele que aparecia no rosto do homem, numa expressão quase...amistosa. Sor Archeron ficou surpreso pela percepção do homem...Mas não deveria...pensou. Por trás dos modos simplórios, Grinn talvez fosse o homem mais perigoso ali, mas naquele dia, parecia especialmente bem humorado. Olhou para as mãos do homem cobertas de sangue viscoso, enquanto ele retirava as tripas de outro coelho.
- Obrigado, amigo, mas estou bem. Então...e o homem que resgatamos? O que acha? – Albert olhou para o rosto de Grinn, só para ver as taturanas se juntarem numa expressão séria. Todos sabiam quem era aquele homem. O servo que estava com Lorde Farman e que havia mandado seu bardo cantar Chuvas de Castamare – a música de Lorde Tywin Lannister – para Lorde Farman, na corte MacLeod. Depois, Albert havia sabido que o homem fora enviado pelo próprio Protetor do Oeste para lembrar a Lorde Farman o que acontece com aqueles que são insubordinados aos Lannisters... e pelos sete, odiava pensar que chegaria aos ouvidos do Protetor do Oeste que os MacLeod compactuam com alguma coisa desse Lorde falastrão... que era o Lorde Farman, mas o que podiam fazer? Deixar o servo para trás?
Aparentemente fora o que o Lorde Farman fizera. Mas eles não. Sor Albert Archeron era um cavaleiro e havia aprovado a decisão de Lorde Dunkan MacLeod em levar o homem moribundo com eles. Sor Albert havia sido sagrado e jurado aos sete, rezava pela misericórdia da Mãe, e por isso devia cumprir os seus juramentos. Ao menos, alguns deles.
- Se tivermos sorte...- Viu Grinn pegar mais um coelho pelas orelhas, posicionar a ponta da faca no peito e com um movimento rápido rasgar lhe até a virilha. -...não dura dois dias... - ...Albert voltou a olhar para o tio e o sobrinho. Dentre os que estavam ali naquela pequena comitiva, Grinn era o que mais entendia de cura, fora ele que quem apreciara o velho ferido e mesmo que não entendesse aquilo como uma ameaça, era melhor que deixasse alguém de guarda para que nada acontecesse ao homem que não fosse da vontade dos deuses.
- E ali? O que acha do Pequeno Lorde? - Perguntou, os lutadores tomavam posição para começar.
- Ahhhh...maisss verde que esse capim...um veado de prata como vai chorar na primeira pancada que tomar! – Albert olhou de canto de olho, desconfiava se Grinn possuía um veado de prata, mas aceitou sem pestanejar em honra de seu pequeno Lorde! Como poderia negar? Teve uma ponta de receio do patrulheiro estar certo, concordava que Dorian era verde, mas mesmo sendo uma criança, era um nobre. Era o herdeiro de Coroa Dourada.
- Dois! – Balbuciou e em seguida viu Lorde Cyan bater na mão do garoto o que fez com que deixasse cair à espada. Albert franziu o cenho, o movimento lhe soou traiçoeiro e não gostava disso. Grinn largou seus coelhos e fez um instante de silêncio a espera do berro do menino, mas o que viram foi Dorian se abaixar, pegar a espada e investir contra o tio.
Grinn tacou a faca no chão resmungando coisas que Albert não entendeu.
Albert apenas sorriu.
- O Lorde pode ser verde, mas é neto de Connor MacLeod!!! – Mal acabou de falar e Cyan apenas moveu os pés para o lado, mais parecia um passo de dança, que uma esquiva, e o garoto mergulhou de barriga para baixo no chão deslizando numa poça de lama.
Grinn grunhiu alguma coisa que Albert deduziu ser uma espécie gutural de risada, o Patrulheiro estava dois veados de prata mais pobre, mas parecia satisfeito em ver a reação tenaz de Dorian.
- Posso me lembrar de Lorde Connor na mesma situação do garoto uma ou duas vezes! - Grinn balbuciou por trás da cortina de pelos negros que lhe cobriam os lábios. Voltando a pegar sua faca e seus coelhos. Dessas vez arrancando-lhes a pele com movimentos brutos e precisos.
- Chafurdando na lama....mas de bêbado!
Albert cruzou os braços e lançou um olhar severo para o caçador, não apreciava esses comentários mais vulgares e nem permitia essas liberdades.
Voltou a observar o treinamento, atento a acidente que o herdeiro poderia sofrer.
Os próximos minutos consistiram de inúmeras quedas de Dorian e inúmeras esquivas de Cyan e durou muito mais do que qualquer um ali poderia prever.
Quando tudo terminou Albert ainda ficou ali pensativo, viu sobrinho e tio se afastarem. Não tinha uma boa impressão do filho mais novo de Lorde Connor MacLeod e quando Grimm se levantou e colocou sobre os ombros o galho cheio de coelhos pendurados e passou por ele, ele perguntou.
- Hey, MacAllister...o que pensa do Irmão do Lorde?
As taturanas se agitaram no rosto de Grimm e a cortina de pelos negros e espessos se abriu. Albert quase pôde ver os dentes por trás do que imaginou que seria um sorriso.
- Não se aflija tanto Sor, ele é mais do que aparenta ser.
Albert se aproximou do homem que tinha mais barba do que rosto visível e conforme se aproximava via que ele estava abrindo a barriga de um coelho e lhe tirando as entranhas. Jogava ali do lado e amarrava a caça sem a barrigada em uma madeira que deixara suspensa. Parou ali do lado do Patrulheiro das Terras Altas, mas não se dignou a oferecer qualquer auxilio na empreitada.
- Parece que a caça foi farta...
Grinn meneou a cabeça em cumprimento e arqueou as sobrancelhas grossas que mais pareciam duas taturanas coladas em sua testa. Albert ficou na dúvida se ele sorrira ou não por trás de toda aquela barba negra e densa. Deveria ter dito ao homem para tomar um banho quando pararam na estalagem. Não imaginava Grinn na corte de Rochedo Casterly, mas era melhor não se preocupar com isso agora.
- Hayyyy....- Foi o grunhido que Albert ouviu em resposta. Cruzou os braços, olhando para Lorde Cyan e Lorde Dorian. Albert era o Mestre de Armas de Coroa Dourada, ele que costumava instruir os jovens.
- Já deu água para os cavalos? Quanto de água e vinho ainda temos? – Perguntou enquanto observava o Irmão de Ferro falar com o pequeno herdeiro. Albert era mais ortodoxo, daria uma espada e mandaria o garoto atacar um alvo de madeira até acordar todos os nervos, músculos e tendões de seu corpo. Franziu o cenho. Tinha suas reservas pessoais ao irmão mais novo do Lorde, mas se esforçava ao máximo para não demonstrá-las. Ele era diferente demais do mundo preto e branco ao qual o cavaleiro gostava de viver e por vezes Albert não gostava de seus modos.
- Hayyyy...um barril de águal, dois barris de vinho....quer que eu olhe o seu ombro? – Outro grunhido, seguido das taturanas dançantes arqueadas no pouco de pele que aparecia no rosto do homem, numa expressão quase...amistosa. Sor Archeron ficou surpreso pela percepção do homem...Mas não deveria...pensou. Por trás dos modos simplórios, Grinn talvez fosse o homem mais perigoso ali, mas naquele dia, parecia especialmente bem humorado. Olhou para as mãos do homem cobertas de sangue viscoso, enquanto ele retirava as tripas de outro coelho.
- Obrigado, amigo, mas estou bem. Então...e o homem que resgatamos? O que acha? – Albert olhou para o rosto de Grinn, só para ver as taturanas se juntarem numa expressão séria. Todos sabiam quem era aquele homem. O servo que estava com Lorde Farman e que havia mandado seu bardo cantar Chuvas de Castamare – a música de Lorde Tywin Lannister – para Lorde Farman, na corte MacLeod. Depois, Albert havia sabido que o homem fora enviado pelo próprio Protetor do Oeste para lembrar a Lorde Farman o que acontece com aqueles que são insubordinados aos Lannisters... e pelos sete, odiava pensar que chegaria aos ouvidos do Protetor do Oeste que os MacLeod compactuam com alguma coisa desse Lorde falastrão... que era o Lorde Farman, mas o que podiam fazer? Deixar o servo para trás?
Aparentemente fora o que o Lorde Farman fizera. Mas eles não. Sor Albert Archeron era um cavaleiro e havia aprovado a decisão de Lorde Dunkan MacLeod em levar o homem moribundo com eles. Sor Albert havia sido sagrado e jurado aos sete, rezava pela misericórdia da Mãe, e por isso devia cumprir os seus juramentos. Ao menos, alguns deles.
- Se tivermos sorte...- Viu Grinn pegar mais um coelho pelas orelhas, posicionar a ponta da faca no peito e com um movimento rápido rasgar lhe até a virilha. -...não dura dois dias... - ...Albert voltou a olhar para o tio e o sobrinho. Dentre os que estavam ali naquela pequena comitiva, Grinn era o que mais entendia de cura, fora ele que quem apreciara o velho ferido e mesmo que não entendesse aquilo como uma ameaça, era melhor que deixasse alguém de guarda para que nada acontecesse ao homem que não fosse da vontade dos deuses.
- E ali? O que acha do Pequeno Lorde? - Perguntou, os lutadores tomavam posição para começar.
- Ahhhh...maisss verde que esse capim...um veado de prata como vai chorar na primeira pancada que tomar! – Albert olhou de canto de olho, desconfiava se Grinn possuía um veado de prata, mas aceitou sem pestanejar em honra de seu pequeno Lorde! Como poderia negar? Teve uma ponta de receio do patrulheiro estar certo, concordava que Dorian era verde, mas mesmo sendo uma criança, era um nobre. Era o herdeiro de Coroa Dourada.
- Dois! – Balbuciou e em seguida viu Lorde Cyan bater na mão do garoto o que fez com que deixasse cair à espada. Albert franziu o cenho, o movimento lhe soou traiçoeiro e não gostava disso. Grinn largou seus coelhos e fez um instante de silêncio a espera do berro do menino, mas o que viram foi Dorian se abaixar, pegar a espada e investir contra o tio.
Grinn tacou a faca no chão resmungando coisas que Albert não entendeu.
Albert apenas sorriu.
- O Lorde pode ser verde, mas é neto de Connor MacLeod!!! – Mal acabou de falar e Cyan apenas moveu os pés para o lado, mais parecia um passo de dança, que uma esquiva, e o garoto mergulhou de barriga para baixo no chão deslizando numa poça de lama.
Grinn grunhiu alguma coisa que Albert deduziu ser uma espécie gutural de risada, o Patrulheiro estava dois veados de prata mais pobre, mas parecia satisfeito em ver a reação tenaz de Dorian.
- Posso me lembrar de Lorde Connor na mesma situação do garoto uma ou duas vezes! - Grinn balbuciou por trás da cortina de pelos negros que lhe cobriam os lábios. Voltando a pegar sua faca e seus coelhos. Dessas vez arrancando-lhes a pele com movimentos brutos e precisos.
- Chafurdando na lama....mas de bêbado!
Albert cruzou os braços e lançou um olhar severo para o caçador, não apreciava esses comentários mais vulgares e nem permitia essas liberdades.
Voltou a observar o treinamento, atento a acidente que o herdeiro poderia sofrer.
Os próximos minutos consistiram de inúmeras quedas de Dorian e inúmeras esquivas de Cyan e durou muito mais do que qualquer um ali poderia prever.
Quando tudo terminou Albert ainda ficou ali pensativo, viu sobrinho e tio se afastarem. Não tinha uma boa impressão do filho mais novo de Lorde Connor MacLeod e quando Grimm se levantou e colocou sobre os ombros o galho cheio de coelhos pendurados e passou por ele, ele perguntou.
- Hey, MacAllister...o que pensa do Irmão do Lorde?
As taturanas se agitaram no rosto de Grimm e a cortina de pelos negros e espessos se abriu. Albert quase pôde ver os dentes por trás do que imaginou que seria um sorriso.
- Não se aflija tanto Sor, ele é mais do que aparenta ser.
Re: CENA PARALELA: Estrada para Rochedo Casterly - Tarde de Acampamento
SARA
A carruagem estava parada e um arrepio frio subiu pelas vertebras da coluna de Sara MacLeod. Era como se lhe alertassem de que algo assustador estava prestes a acontecer e antes de abrir os olhos ela podia sentir que estava sozinha no interior da carruagem.
Latidos selvagens e violentos chegaram aos seus ouvidos.
Cães brigavam furiosamente em algum lugar e Sara podia ouvir rosnados irados e ganidos agonizantes de dor.
A imagem de Dorian, seu jovem meio-irmão e companheiro de viagem, repentinamente lhe invadiu o pensamento. Ele deveria estar lá, dentro da carruagem, junto com ela, mas não estava. Não sentia sua presença e assim que abriu os olhos, constatou que sua intuição estava certa.
A portinhola da carruagem estava aberta e não havia sinal de Dorian por ali. Um dos cães que brigavam lá fora urrou de dor. Um grito excruciante e agoniante de dor.
Onde estariam todos?
O pai?
O tio?
Sor Albert?
Grimm? Miller?
Dorian?
Sara começou a perceber que havia algo estranho e perturbador ali, enquanto olhava para a porta escancarada névoas noturnas começaram a entrar na carruagem, compreendeu no fundo de sua mente que estava sonhando, mas ao mesmo tempo, estava sendo guiada. A névoa era sonho, mas o arrepio que provocava a enregelava e a atormentava como se estivesse numa noite gélida de inverno. O frio era real como milhares de agulhas de gelo pinicando-a.
A névoa gelada a obrigou a sair para a clareira vazia, circundada por árvores velhas de galhos retorcidos. Foi envolvida e forçada a caminhar, pela névoa gelada que cobria sua pele de calafrios, distorcendo seus sentidos e trazendo-lhe preocupações.
Sara ouviu ganidos agonizantes e conseguiu ver um pequeno cão se arrastando para baixo da carruagem. Era um filhote ferido e assustado, deixando um rastro de sangue pelo chão e ganidos doloridos no ar.
Mal pôde reagir e uma rajada de vento frio a atingiu em cheio fazendo seus cabelos se soltarem e serpentearem no ar. A névoa foi se abrindo a sua frente para patas gigantes avançarem vagarosamente enquanto saliva e sangue escorria dos dentes rangidos de um imenso cão raivoso que rosnava e a encarava. Era imenso, uma montanha de músculos e pelos negros com olhos vidrados e brilhantes de maldade. Não se parecia com nenhum cão de caça que já havia visto e ele a encarava.
O cão avançava devagar.
Um garoto segurando uma espada de madeira passou correndo entre eles, atraindo o olhar raivoso do cão.
Sara viu o imenso cão avançar na direção do garoto.
Era Dorian.
A névoa os envolveu em confusão.
A floresta crescia ao redor de Sara. Ouvia o farfalhar das folhas e o estalar da madeira. A vegetação crescia sob seus pés e a desequilibrava. Tremores no solo até que a névoa se abriu, o que viu a frente foi uma trilha estreita cheia silvos e sibilos.
Coisas rastejavam pelo chão.
Uma coisa peçonhenta rastejava sobre a pele alva do colo de Sara.
Uma criatura negra de pernas aracnídeas saltou para o chão. Era maior que a mão de Sara, com longas pernas de aranha e um ferrão negro e reluzente de escorpião. Abriu caminho pela névoa, correndo malignamente pela trilha que se abriu.
Por um instante houve silêncio e a jovem MacLeod pôde ouvir as batidas do próprio coração.
Um breve instante.
Um rugido furioso preencheu a noite. Outro e outro fizeram coro e Sara não podia ver, mas sabia que eram rugidos de Leões.
Leões que se faziam ouvir.
O vento gelado chicoteou suas costas e Sara sentiu as pernas novamente serem pinicadas por centenas de agulhas geladas, a névoa onírica começou a se fechar e cobrir a trilha e Sara sabia que se ficasse ali, estaria perdida, intuía isso. Estaria perdida na névoa com os Leões.
No covil dos Leões.
Suas pernas doíam quando parou de correr. Quando as chicotadas de vento paparam de empurrá-la pela trilha.
Estava novamente em uma clareira, tinha a impressão de que era a mesma em que estava no começo, mas a carruagem não estava lá, só a impressão de que conhecia aquele lugar e alguma coisa estava lá.
“Piiffff...pahhh....Eu sou um Cavaleiro dos Sete, ajoelhe-se perante mim e jure sua lealdade!”
Ouviu a voz do garoto e rapidamente se pôs na direção da voz. Uma sensação de alivio invadiu sua mente.
Era a voz de Dorian!
Debaixo de uma árvore de folhas vermelhas, Sara viu vultos, depois silhuetas e por fim, de costas para ela, distinguiu o irmão sentado no chão ao lado de alguém com capa e capuz vermelhos.
A bastarda Dana, sua dama de companhia.
Tinha certeza de que era ela. Também estava sentada e parecia ocupada com algo enquanto Dorian brincava ao seu lado.
Eles não pareciam notar sua presença, nem mesmo quando ela se aproximava por trás dos dois. A primeira coisa que viu foi os bonecos de madeira que o meio-irmão segurava. Eram títeres, bonecos articulados de madeira, um estava de armadura e segurava uma espada em uma das mãos, não usava elmo e o roto era ricamente entalhado com as feições do pai. Até os cabelos eram idênticos e a armadura ornamentada com a espada, a chama e a montanha.
Dorian puxou o outro boneco para o alto e o fez girar numa cambalhota e aterrissar em pé de frente para o cavaleio. Esse não usava armadura, apenas uma calça de couro, o dorso nu revelava as articulações e as cordinhas com as quais Dorian brincava. Os olhos pintados do boneco eram muito azuis e Sara não teve dúvidas de que era o tio representado ali. Dorian o endireitou numa pose garbosa, e ergueu um dos braços do boneco na direção do cavaleiro, apontando uma das facas que o boneco segurava.
“Eu vim das Cidades Livres! Eu sou livre!”
E os dois bonecos se chocavam numa luta desordenada com cordinhas formando um emaranhado e Dorian produzindo os mais diversos sons de batalha que conseguia.
O arrepio voltou a lhe subir pelas costas e devagar aquela cena sem sentido se transformou em horror. Ao olhar mais para baixo, viu o cão selvagem deitado junto da perna estendida de Dorian e enquanto o pequeno meio-irmão brincava com seus bonecos, o cão mastigava a perna de Dorian. O osso já estava exposto junto de carne, sangue e tendões próximos do tornozelo.
A visão era como um soco em seu estômago.
Sara sentiu a primeira tontura.
Quando olhou para Dana, viu deitado entre as pernas da dama de companhia o Basilisco. A cabeça pendia para o lado sem vida, enquanto a barriga virada para cima estava aberta e Dana enfiava as mãos dentro do animal e lhe tirava as entranhas.
O Basilisco abriu os olhos e olhou diretamente para Sara.
A segunda tontura veio forte e Sara quase desfaleceu.
Tudo ficou turvo e quando pareceu que ia terminar...tudo voltou.
Sara estava diante da cabana de Laguertha.
Estava na floresta do Basilisco.
E era ela que estava com o manto e o capuz vermelho. Suas mãos estavam sujas de sangue, que subia pelo braço até os cotovelos. Atrás de si havia a névoa e todos os vultos que havia encontrado, sedentos por ela.
A frente havia a porta da cabana e luzes que escapavam das frestas das madeiras.
Podia seguir ou recuar e pela primeira vez sentia que tinha escolha.
Latidos selvagens e violentos chegaram aos seus ouvidos.
Cães brigavam furiosamente em algum lugar e Sara podia ouvir rosnados irados e ganidos agonizantes de dor.
A imagem de Dorian, seu jovem meio-irmão e companheiro de viagem, repentinamente lhe invadiu o pensamento. Ele deveria estar lá, dentro da carruagem, junto com ela, mas não estava. Não sentia sua presença e assim que abriu os olhos, constatou que sua intuição estava certa.
A portinhola da carruagem estava aberta e não havia sinal de Dorian por ali. Um dos cães que brigavam lá fora urrou de dor. Um grito excruciante e agoniante de dor.
Onde estariam todos?
O pai?
O tio?
Sor Albert?
Grimm? Miller?
Dorian?
Sara começou a perceber que havia algo estranho e perturbador ali, enquanto olhava para a porta escancarada névoas noturnas começaram a entrar na carruagem, compreendeu no fundo de sua mente que estava sonhando, mas ao mesmo tempo, estava sendo guiada. A névoa era sonho, mas o arrepio que provocava a enregelava e a atormentava como se estivesse numa noite gélida de inverno. O frio era real como milhares de agulhas de gelo pinicando-a.
A névoa gelada a obrigou a sair para a clareira vazia, circundada por árvores velhas de galhos retorcidos. Foi envolvida e forçada a caminhar, pela névoa gelada que cobria sua pele de calafrios, distorcendo seus sentidos e trazendo-lhe preocupações.
Sara ouviu ganidos agonizantes e conseguiu ver um pequeno cão se arrastando para baixo da carruagem. Era um filhote ferido e assustado, deixando um rastro de sangue pelo chão e ganidos doloridos no ar.
Mal pôde reagir e uma rajada de vento frio a atingiu em cheio fazendo seus cabelos se soltarem e serpentearem no ar. A névoa foi se abrindo a sua frente para patas gigantes avançarem vagarosamente enquanto saliva e sangue escorria dos dentes rangidos de um imenso cão raivoso que rosnava e a encarava. Era imenso, uma montanha de músculos e pelos negros com olhos vidrados e brilhantes de maldade. Não se parecia com nenhum cão de caça que já havia visto e ele a encarava.
O cão avançava devagar.
Um garoto segurando uma espada de madeira passou correndo entre eles, atraindo o olhar raivoso do cão.
Sara viu o imenso cão avançar na direção do garoto.
Era Dorian.
A névoa os envolveu em confusão.
A floresta crescia ao redor de Sara. Ouvia o farfalhar das folhas e o estalar da madeira. A vegetação crescia sob seus pés e a desequilibrava. Tremores no solo até que a névoa se abriu, o que viu a frente foi uma trilha estreita cheia silvos e sibilos.
Coisas rastejavam pelo chão.
Uma coisa peçonhenta rastejava sobre a pele alva do colo de Sara.
Uma criatura negra de pernas aracnídeas saltou para o chão. Era maior que a mão de Sara, com longas pernas de aranha e um ferrão negro e reluzente de escorpião. Abriu caminho pela névoa, correndo malignamente pela trilha que se abriu.
Por um instante houve silêncio e a jovem MacLeod pôde ouvir as batidas do próprio coração.
Um breve instante.
Um rugido furioso preencheu a noite. Outro e outro fizeram coro e Sara não podia ver, mas sabia que eram rugidos de Leões.
Leões que se faziam ouvir.
O vento gelado chicoteou suas costas e Sara sentiu as pernas novamente serem pinicadas por centenas de agulhas geladas, a névoa onírica começou a se fechar e cobrir a trilha e Sara sabia que se ficasse ali, estaria perdida, intuía isso. Estaria perdida na névoa com os Leões.
No covil dos Leões.
Suas pernas doíam quando parou de correr. Quando as chicotadas de vento paparam de empurrá-la pela trilha.
Estava novamente em uma clareira, tinha a impressão de que era a mesma em que estava no começo, mas a carruagem não estava lá, só a impressão de que conhecia aquele lugar e alguma coisa estava lá.
“Piiffff...pahhh....Eu sou um Cavaleiro dos Sete, ajoelhe-se perante mim e jure sua lealdade!”
Ouviu a voz do garoto e rapidamente se pôs na direção da voz. Uma sensação de alivio invadiu sua mente.
Era a voz de Dorian!
Debaixo de uma árvore de folhas vermelhas, Sara viu vultos, depois silhuetas e por fim, de costas para ela, distinguiu o irmão sentado no chão ao lado de alguém com capa e capuz vermelhos.
A bastarda Dana, sua dama de companhia.
Tinha certeza de que era ela. Também estava sentada e parecia ocupada com algo enquanto Dorian brincava ao seu lado.
Eles não pareciam notar sua presença, nem mesmo quando ela se aproximava por trás dos dois. A primeira coisa que viu foi os bonecos de madeira que o meio-irmão segurava. Eram títeres, bonecos articulados de madeira, um estava de armadura e segurava uma espada em uma das mãos, não usava elmo e o roto era ricamente entalhado com as feições do pai. Até os cabelos eram idênticos e a armadura ornamentada com a espada, a chama e a montanha.
Dorian puxou o outro boneco para o alto e o fez girar numa cambalhota e aterrissar em pé de frente para o cavaleio. Esse não usava armadura, apenas uma calça de couro, o dorso nu revelava as articulações e as cordinhas com as quais Dorian brincava. Os olhos pintados do boneco eram muito azuis e Sara não teve dúvidas de que era o tio representado ali. Dorian o endireitou numa pose garbosa, e ergueu um dos braços do boneco na direção do cavaleiro, apontando uma das facas que o boneco segurava.
“Eu vim das Cidades Livres! Eu sou livre!”
E os dois bonecos se chocavam numa luta desordenada com cordinhas formando um emaranhado e Dorian produzindo os mais diversos sons de batalha que conseguia.
O arrepio voltou a lhe subir pelas costas e devagar aquela cena sem sentido se transformou em horror. Ao olhar mais para baixo, viu o cão selvagem deitado junto da perna estendida de Dorian e enquanto o pequeno meio-irmão brincava com seus bonecos, o cão mastigava a perna de Dorian. O osso já estava exposto junto de carne, sangue e tendões próximos do tornozelo.
A visão era como um soco em seu estômago.
Sara sentiu a primeira tontura.
Quando olhou para Dana, viu deitado entre as pernas da dama de companhia o Basilisco. A cabeça pendia para o lado sem vida, enquanto a barriga virada para cima estava aberta e Dana enfiava as mãos dentro do animal e lhe tirava as entranhas.
O Basilisco abriu os olhos e olhou diretamente para Sara.
A segunda tontura veio forte e Sara quase desfaleceu.
Tudo ficou turvo e quando pareceu que ia terminar...tudo voltou.
Sara estava diante da cabana de Laguertha.
Estava na floresta do Basilisco.
E era ela que estava com o manto e o capuz vermelho. Suas mãos estavam sujas de sangue, que subia pelo braço até os cotovelos. Atrás de si havia a névoa e todos os vultos que havia encontrado, sedentos por ela.
A frente havia a porta da cabana e luzes que escapavam das frestas das madeiras.
Podia seguir ou recuar e pela primeira vez sentia que tinha escolha.
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Bia, como estava ficando muito longo, eu resolvi fazer em duas partes, e criei alternativas para você. Tipo os livros “vá para página tal” rs....aí você escolhe agora...se ela entrar é uma coisa...se recuar é outra...se tiver alguma dúvida é só me perguntar
Beijão
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